Phantom Lord: Bico D'obra

Os Bico D'Obra surgiram nos finais de 1978, no movimento que ficou conhecido como o "boom do rock nacional", estivemos à conversa com Armando Jorge Caetano, baixista e vocalista dos Bico D'Obra, que hoje em dia ainda continua no activo com a sua "Hard Cover Band".

P. – Olá Jorge! Quando formaste os Bico D'Obra? Foi por volta de 1980? Conta-nos como se deu o início da banda.

Jorge - Fundada nos finais de 1978.

P. - Quais era as vossas principais influências por estas alturas?

Jorge - Led Zeppelin e Deep Purple.

P. - Em que outras bandas participaste antes dos Bico D'Obra? Ainda chegaste a gravar um single com os Preâmbulo Que.

Jorge - Em 1975 realmente gravei o primeiro disco com Preâmbulo Quê, cujo produtor foi o José Cid. Além de ter participado em algumas musicas com ele e gravado o baixo com alguns artistas de então.

P. - Quais as principais dificuldades com que se deparavam naquela altura? Salas de ensaio? Disponibilidade para ensaiar? Falta de material? Ou outras?

Jorge - Quanto às dificuldades que se deparavam na altura, e no caso concreto de Bico D`Obra, não tínhamos qualquer problema nesses aspectos. Até porque era uma banda auto-suficiente, e que inclusivamente, aquando do aniversário de um conceituado periódico musical na altura " Misicalíssimo" que durou 3 dias e com 30 e tal bandas mas conhecidas na altura, foi todo o nosso cenário de som e luzes que esteve ao dispor, pois a maior parte das bandas de obrigava a aluguer, e nós tínhamos tudo.

P. - Em relação a concertos, tocavam regularmente ao vivo, ou era difícil encontrar sítios para tocar?

Jorge - Tocávamos ao vivo ligado a uma empresa de eventos, mas como é lógico nessa altura, havia muitos lobies e oportunistas.

P. - Com a edição do single "A Rasgar é que a Gente se Entende" em 81, conseguiram um maior número de fãs? O single passava com frequência na rádio?

Jorge - Não passou muito na rádio, mas tivemos na altura a sorte de haver um Senhor que nos adorava e nos levava á rádio e televisão: Júlio Isidro, que nos intitulava os Led Zeppelin portugueses. Até porque ao vivo reflectíamos o peso da nossa música que no disco não se declarava. E a gravadora nada fazia para nos vender, tanto pelos lobies, por sermos da província, e o hard não estar na moda nesse período.

P. - Para além das músicas dos singles, incluíam covers no vosso reportório? Quais essas covers?

Jorge - Nunca incluímos covers, tínhamos repertório próprio para todo o espectáculo.

P. - Em dezembro de 81 dá-se a grande maratona do rock, que memórias guardas desse dia? Ainda te lembras quais as bandas com quem tocaram?

Jorge - Houve realmente essa maratona mas me parece que era desse espectáculo que me referi há pouco, se a memória não me atraiçoa. Mas foram todas as bandas e artistas ligados ao rock de então.

P. - Em 1982 editaram o single "Portugal/ Os Fora Da Lei", tentaram por esta altura a edição de um LP também?

Jorge - Estaria previsto um LP brevemente, mas realmente havia dificuldade em todos os membros da banda mudarem para Lisboa onde tudo funcionava, já que todos tínhamos outras profissões.

P. - Achas que o chamado "Boom do Rock", significou uma lufada de ar fresco no panorama rock nacional?

Jorge - Foi uma lufada de ar fresco, mas conspurcada também, já que era uma loucura a procura das editoras quererem gravar bandas sem o mínimo de qualidade, tanto a nível técnico como da qualidade de muitas bandas.

P. - Quando terminaram os "Bico D'Obra"? O que achas que correu mal naquela altura para que os Bico D'Obra não tivessem tido continuidade?

Jorge - A razão da não continuidade tinha a haver, e como já referi, estarmos fora de Lisboa.

P. - Dos concertos que deram há algum que guardem alguma memória especial?

Jorge - Um memorável na Amadora.

P. - Manténs o contacto com os antigos elementos da banda hoje em dia?

Jorge - Algum contacto, até porque o baterista já faleceu há alguns anos.

Mesmo depois do 2º. single, houve mudanças na banda, saída do baterista e guitarrista. Inclusivamente a parte musical teve alguma alteração, se manteve o har mas mais sinfónico. E o guitarrista que entrou era o Chico Martins que ainda hoje é um dos grandes aqui no burgo, e acompanha agora o José Cid, e com uma carreira invejável. Ainda chegámos a apresentar a nova formula no extinto Rock Rend vous, e o Frodo se interessou em produzir o novo disco, mas...quería alterar o princípio das músicas e ...não !!!

P. - Hoje em dia tens a "Hard Cover Band", em que consiste este projecto?

Jorge - Criei os " Hard Cover Band" no intuito de uma homenagem ao hard rock das bandas míticas de 70 por gosto pessoal. E nesta altura se divide em 3 projectos, apenas a alteração de mais um músico, ou seja:

- Hard Cover Band - Tributo ao hard rock 70

- PurpleDeep - Tributo a Deep Purple (único no Pais)

- Hard Zeppelin - Tributo a Led Zeppelin

P. - Depois de tantos anos, nunca desististe e ainda continuas no activo, poderemos dizer que o hard rock e o heavy metal ainda te corre nas veias?

Jorge - Sim , me corre nas veias. Apesar de ter parado totalmente como musico durante 19 anos desde 1994.

P. - Há alguma banda de hard rock ou heavy metal que ainda que ainda gostes ou sigas actualmente?

Jorge - Normalmente é o que ouço. O que não invalida que ouça outros tipos de musica e muito antagónicos.

P. - Passados todos estes anos, surpreende-te o facto dos Bico D'Obra ainda suscitarem interesse hoje em dia?

Jorge - Há sempre um interesse histórico, e até me mandaram há cerca de um mês, um álbum de rock português de 2ª linha que estava á venda em Inglaterra onde estavam incluídos 2 temas nossos.

P. - Há alguma história divertida que possas partilhar connosco?

Jorge - Sou muito mal de histórias, lembro de algumas, mas...?! Talvez o Mário Mata que fazia as nossas primeiras partes, quase se mijava todo antes de entrar em palco, eheheh.