English version below
Metalmorphose, começou por volta de 1983, o seu primeiro
álbum foi um "split" com Dorsal Atlântica chamado
"Ultimatum", em 1985. Após um longo interregno a banda voltou ao
activo em 2008 tendo lançado vários álbuns até 2018. Mantivemos uma conversa
com o baixista a mentor do projecto André Bighinzoli onde abordámos vários
assuntos sobre a banda.
P. - André, fala-nos um pouco do início dos
Metalmorphose, como surgiu a ideia de formar uma banda? Conta-nos um pouco da
vossa história.
André - Na verdade não houve nada especial, nós todos éramos muito jovens, adolescentes ainda, e o Metalmorphose foi a nossa primeira
banda. Eu aos 7 anos comecei a ter aulas de violão, morava em Brasília, depois
fui para o Rio de Janeiro, a minha família é do Rio, houve uma fase em que me
desinteressei, mas depois comecei a gostar de rock e música em geral. Na
chamada “Era da discoteca”, fiquei muito interessado no som do baixo, nas
bandas, eu ficava vidrado na figura do baixista, por exemplo, o John Paul Jones
do Led Zeppelin. Quando tinha 13 anos os meus avós italianos ofereceram-me um
baixo, mas no Brasil era proibido a importação de instrumentos devido à
ditadura, havia uma lei que se existisse um produto de fabrico nacional e
houvesse um produto similar estrangeiro, o mesmo não poderia ser importado, era
um baixo fender jazz americano, custou uma fortuna na época 2000 dólares.
Simultaneamente um amigo disse-me que havia um pessoal
ensaiando, uns amigos, perto da rua dele, era na casa do Marcelo Ferreira que viria
a ser o guitarrista de Metalmorphose, que estava a tocar com o Celso Suckow, e
com um baterista que era o Walter Costa que tocava numa bateria improvisada,
eles estavam procurando baixista e fui convidado. Na semana seguinte levei um amplificador
para o ensaio, e assim começaram os “Pena de Morte”, que na verdade até foi uma
sugestão minha derivado de uma música que tinha escrito, com o mesmo nome,
foram os primeiros passos do que viria a ser Metalmorphose, em 1983. Eu tinha
14 anos, e o mais velho era o Tavinho Godoy que tinha 17 anos, eramos uns
meninos (uns putos).
O Marcelo e o Celso já tinham musicas, eles já compunham
e quando entrei eu também comecei a compor, tocávamos algumas covers, Manowar,
Judas Priest, mas eram coisas pontuais, nos Brasil estava a acontecer o fim da
ditadura, o Rock e o Metal eram muito irreverentes na nossa sociedade, nós sentíamos
muito o Metal e era uma questão de atitude, tínhamos cabelo comprido, não andávamos
vestidos à moda, nem íamos à praia, e isso reflectia-se na composição, a irreverencia,
e ficávamos muito ligados à temática de grupos como os Black Sabbath aquilo era
tudo um barato para nós.
A nossa primeira música chamava-se “Rock 'n' Roll No Inferno”.
É engraçado que uma geração, ela tem uma aversão imediata e automática com a
geração imediatamente anterior, nessa época tínhamos aversão aos Hippies, que
era a geração anterior à nossa, essa era a geração do Rock 'n' Roll de paz e
amor, e nós achávamos que era horrível, e queríamos distanciar-nos desse
movimento.
P. - Quais as principais dificuldades com que se
deparavam nessa altura em que formaram os Metalmorphose?
André - Não houve grandes dificuldades, a dificuldade era
comungar com essa coisa do comercial, por exemplo tocar numa radio, no Rio
havia a Radio Maldita (a Radio Fluminense FM), o Dorsal Atlântica passava lá
uma música, havia o Azul Limão a turma era mais velha, o Marcos era mais velho,
eu estou com 51, o Marcos está com 60 anos, o Carlos Vândalo, que era o Carlos
Punk na época, eu tinha 14 ele tinha 23, havia uma grande diferença, e a radio
Fluminense ela, começava a passar rock, e tenho que dizer o seguinte, houve um
movimento, o Rock Brasil com bandas como Barão Vermelho, Kid Abelha, Legião Urbana,
Ultraje a Rigor, Herva Doce, Lobão, era uma turma do rock mas era um rock mais
moderno, nós metaleiros gostávamos de virtuosismo.
A “media”, os shows, a cena não existia, como nós eramos
muito jovens nós conseguimos lugares bizarros para tocar, nós tocamos no bar Opinião
que era uma churrascaria, fizemos 2 shows lá, inclusive com Dorsal Atlântica, o
Metalmorphose depois conseguiu tocar no Teatro do Planetário que era um sitio
que não tinha absolutamente nada a ver com o Metal, eles deram-nos as
segundas-feiras e nós conseguíamos lotar o recinto.
P. - E quais as vossas principais influências e grupos
favoritos no inicio da banda?
André - As nossas principais influências eram os Iron
Maiden, Judas Priest, AC/DC, Motorhead, Black Sabbath, e também os Deep Purple,
a fase com Gillan.
Nós vimos bandas como Manowar, Metallica, Anthrax, Slayer
surgirem, e lembro-me que o Celso, como tinha dinheiro, comprava os discos das
gravadoras americanas, pelo correio, mesmo sem conhecer, ele via o nome das
bandas e encomendava às gravadoras independentes como a Music For Nations, discos
que não havia no Brasil.
Até que aconteceu o fenómeno Rock In Rio, que foi feito
em janeiro de 85, como era um evento comercial, as gravadoras lançaram material
antigo de bandas como Queen, Iron Maiden, Van Halen, AC/DC, Whitesnake, Ozzy
Osbourne, Black Sabbath, devido ao festival, com essa onda, surgiu essa
oportunidade, a editora EMI tinha no brasil um selo chamado Heavy Metal Attack,
e editou Iron Maiden, Accept, Wasp, mas era tudo novidade.
P. - Como se deu a vossa estreia com o álbum
"Ultimatum", como surgiu a ideia de fazer um "Split" com os
Dorsal Atlântica?
André - O que aconteceu foi que nós tivemos contacto com
os Dorsal Atlântica, que nós admirávamos muito, porque eram Metal e muito
impactante ao vivo, era uma banda que nos admirávamos, mais velhos, o Celso
tinha um local para ensaio, e tínhamos uma situação financeira melhor. O Dorsal
queria fazer um disco, o Carlos Lopes procurou umas bandas de São Paulo. Segundo
o relato do próprio Carlos, no seu livro, “Guerrilha”, onde conta a história da
Dorsal Atlântica, ele disse justamente isso, que precisavam de um lugar para
ensaiar e uma banda para dividir os custo e nós estávamos disponíveis e assim fizemos
com eles.
Gravado em 84 e lançado em janeiro de 85, o Ultimatum foi
uma bênção e ao mesmo tempo uma maldição, porque o Metalmorphose não estava
pronto, não era maduro, nós eramos uns meninos, gravei o disco com 15 anos de idade,
conhece alguma banda com baixista com 15 anos de idade? Pois é! Mas as músicas
eram de nossa autoria.
Por outro lado, Dorsal Atlântica já estavam muito mais
consolidados como banda, então foi uma coisa assim que houve essa dicotomia de
cara, os fãs dividiram-se, a maior parte dos fãs era da Dorsal, e começaram a
rejeitar muito Metalmorphose, mas nós imediatamente virámos a página e começámos
a compor e trabalhar em material novo que foi gravado em 86, uma demo com Minha
Droga é o Metal, Maldição, Ela Tem Sempre Uma Desculpa, Rebeldia, que está na
colectânea que o Fernando Roberto editou que é A Nossa Droga é o Heavy Metal,
só que essa demo ela nunca chegou a ser disco, ela nunca foi comercializada, mas
houve uma difusão, houve uma disseminação enorme, as pessoas copiando as fitas
e tal, a demo foi parar longe, e foi a partir daqui que o Metalmorphose digamos
teve o seu ponto alto, o seu auge.
Foi neste momento que eu sai do grupo, por coisas de
garoto, eu na verdade brigava muito com eles, a gente se desentendia, o Celso
era muito autoritário, o sistema era muito rígido, ensaiávamos todos os fins-de-semana,
e também discutimos muitas vezes, e houve uma vez depois de uma discussão eu
sai da banda e entrou outro baixista e foi assim quase como quem não quer nada!
Nós tínhamos feito todo o material da demo, as musicas os
arranjos e tal e quem gravou foi o meu substituto, o Plínio Júnior que entrou
na banda e em menos de um mês gravou a demo que tinha sido composta com a minha
participação.
P. - O single "Correntes" foi editado de forma
independente em 1986, era difícil encontrar uma editora naquele tempo?
André - Essa altura foi crucial para o Celso, Marcelo e André
Delacroix, que foi a altura da entrada na faculdade e o grupo passou a ficar em
segundo plano, principalmente o Celso e o Marcelo cujos pais tinham empresas. O
pai do Celso tinha uma construtora, e ele estava estudando engenharia, para
herdar a empresa, e o grupo comercialmente falando começou a ficar em segundo
plano.
Eles fizeram o Correntes em 86, mas eles tiveram uma
gravadora, um selo chamado CID (Companhia Industrial de Discos), que lançou
muita coisa no Brasil, eles fizeram esse acordo na época com a gravadora, mas a
história, que eu sei por alto porque já não estava mais no grupo, foi que houve
um desacordo no final, depois de se ter gravado e ter prensado o disco, houve
um problema contratual não sei o que aconteceu e a CID resolveu não lançar o
material e esses discos foram para destruição. Reza a lenda e foi confirmado pelo
próprio Carlos da Dorsal, o Carlos estava na Cid vendo os discos serem levados
para o lixo e o Carlos pediu ao funcionário que lhe deixasse levar alguns e
acabou levando uma quantidade de discos, uns 50, eu não sei exactamente quantos
foram que ele pôde levar e foi isso que sobrou do “Correntes”.
P. - O que vos levou a separar a banda em 1989? O que
acha que correu mal para que o projecto não tivesse tido continuidade?
André - Depois do “Correntes” ficou então o vácuo, e o Metalmorphose
a partir dai tornou-se uma banda que não estava mais no activo, practicamente
uma banda de mentira, eles queriam um contrato grande com uma gravadora e foram
para o lado do Glam Hair Rock, enquanto que o Dorsal não, ficou cada vez mais
radical e o Metalmorphose foi para a fase Hair Band, mas eles não faziam mais
shows, tanto é que o André Delacroix saiu da banda em 86 e não gravou o single Correntes,
quem entrou na banda foi o Walter, o baterista que tocou lá bem atrás quando eu
conheci o grupo e ele disse-me numa entrevista no Canal Metalmorphose que eles
nunca fizeram um show com ele ao vivo. Por isso o ultimo show do Metalmorphose
foi com o André Delacroix na bateria em 86 e por isso pode-se dizer que o grupo
practicamente parou bem antes de 89, fizeram mais algumas músicas, umas demos
que eu tenho inclusive, ainda com o Tavinho que também acabou por sair, e eles
mudaram de nome tanto é que o Marcelo e o Celso, até hoje eles tocam juntos,
mas como amadores, fazendo outro tipo de som e enfim o grupo acabou de facto
realmente em 86.
P. - Mantiveram o contacto após a separação da banda?
André - Nós sempre mantivemos o contacto, mas muito
eventual, muito esporádico, mas nunca ninguém perdeu o contacto na verdade, mas
socialmente não tínhamos interacção, mas ficou aquela coisa de agente se
conhecer.
P. - Que outros projectos musicais você teve durante o
interregno dos Metalmorphose?
André - Eu formei alguns grupos, eu passei por um grupo
chamado Segundo Movimento, logo assim que eu sai do Metalmorphose, depois eu
conheci um pessoal da Universidade de Santa Úrsula, músicos muito bons, sempre
gostei de estar cercado de gente que toca bem e nós fizemos um grupo chamado Heramus,
muito bom grupo, muito saudoso, que pode ser ouvido no Soundcloud, depois o Heramus
deu lugar ao DNA, que foi um grupo que chegou a ter um certo sucesso, tivemos
um contrato com a gravadora Eldorado, lançamos um CD em 98, depois esse grupo
meio que se desfez e se transformou no Genoma que era um grupo também com o
Darwen Schiavini que é meu amigo e parceiro, inclusive fez uma letra para o Metalmorphose,
no tema “Solução” do álbum “Ação & Reação”, é meu amigo desde a fase do Heramus
e aqui entrou o Pedro Paulo Cavalcante que eu depois chamei mais tarde para o Metalmorphose.
O Genoma é o que eu considero um grupo excelente,
practicamente a banda do coração, onde eu cantava. O Gustavo Andriewiski que é
o produtor do Metalmorphose, vai finalizar as gravações, nós começamos em 2003,
com o baterista que já faleceu Pedro Ariel (Pedrinho) e enfim, eu quero
finalizar esse disco, é o projecto que eu estou retomando, é esse projecto que
eu queria ver se encontrava músicos aqui em Portugal para retomar o grupo, por
causa das músicas, das composições. Então esse foi o meu hiato, o que aconteceu
no meu hiato.
P. - Como surgiu a ideia de voltar a reunir os
Metalmorphose em 2008?
André - A volta do Metalmorphose foi um estimulo externo,
acho que ninguém achava que a banda um dia ia voltar, muito menos voltar a
fazer shows e a fazer sucesso, nós tivemos esse gostinho do sucesso lá trás,
com as musicas tocando no radio, o disco Ultimatum, mas eramos muito jovens,
então 25 anos depois um amigo me chama para ver um show do Stress e do Azul Limão
e eu fui assistir e achei tão legal no palco, bem mais velhos e achei que
ninguém se ia lembrar de mim e de repente eu comecei a ser assediado pelo
publico que ainda se lembrava do Metalmorphose, conheci um casal que tinha
feito uma página de internet de Metalmorphose e fiquei empolgado com aquilo,
cheguei em casa e no dia seguinte peguei no caderno de endereços do telefone e
liguei para o pessoal, liguei para o Celso que era o dono da banda e disse Celso
vamos fazer um show cara, um “comeback”, um show com aquelas musicas, eu falei
que havia bandas fazendo covers de musicas do Metalmorphose que esse material
já tinha virado pirata e haviam discos do Ultimatum a ser vendidos a 100 dólares
no mercado negro.
Aí o pessoal se empolgou com aquela ideia, Também teve um
caso do Marcelo Fróes que é produtor no Brasil e estava fazendo um tributo aos Beatles,
o Marcelo é muito famoso no meio cultural, ele estava fazendo o tributo aos 40
anos do “White Album” dos Beatles e conversando com ele eu disse-lhe para ele colocar
uma música do Metalmorphose e aí nós gravamos o tema “Glass Onion” e foi mais
uma coisa que empolgou o pessoal a voltar.
Na verdade eu, o baterista André Delacroix e o Tavinho
ficamos muito animados, os dois guitarristas o Celso e o Marcelo foi aquela
coisa de sempre, eles se animaram no inicio mas depois começaram a ter pouco
interesse, e foi nesse momento que, até para a gente ensaiar e tudo mais, eu
chamei um outro guitarrista o Mário Sevciuc, um guitarrista muito bom, que vocês
podem ouvir no Odisseia, e o Mário sozinho ele tirou todo o reportório e tocou.
Depois eu fui a casa do Celso, a gente ainda não tinha marcado o tal show de
regresso, que viria a ser o Odisseia, e eu disse, olha a gente queria continuar
com o Mário porque percebi que vocês não vão querer fazer concertos em locais
pequenos e não vão querer sair do Rio para tocar ao vivo, ele deu a bênção e
isso abriu o caminho para o regresso. Começamos a trabalhar com o Mário, fizemos
o show do Odisseia que foi um marco para a banda, e aí eu tive a ideia, de que
o André Delacroix foi contra, de fazer um disco novo, porque não? Com o
material novo!
A partir de 2009 a história muda, porque esse disco novo
acabou sendo o Maquina dos Sentidos e aí sim a banda voltou totalmente ao activo.
P. - Fale-nos um pouco sobre como surgiu a ideia de
organizar o festival Super Peso Brasil?
André - Nós Metalmorphose, quando quisemos lançar o Maquina
dos Sentidos, lançado em 2012, eu tive a ideia de fazer o lançamento no Rio de
Janeiro e em São Paulo, só que eu queria tocar em São Paulo numa casa boa, num
lugar bacana, era importante, e eu procurei o Manifesto. O Manifesto era a casa
mais importante, não era muito grande mas até artistas internacionais tocavam
lá. O dono é argentino e eu conheci o Ricardo Batalha, editor da revista Roadie
Crew, que é a maior revista de metal da américa latina, eu fui com o Batalha e
ele me apresentou ao Silvano, dono lá da casa e eu fiz uma proposta para ele eu
tinha conversado antes com o Bala (Vocalista de Stress) e fiz uma proposta de
fazer um show com o Stress, eu seria o produtor e traria o Stress e ele nos
daria uma data lá em São Paulo.
A partir daí quando eu consegui a data, por sugestão do
Batalha, depois eu coloquei uma banda local que estava voltando que era o Centurias,
outra banda dos anos 80 que estava parada, então a gente marcou esse show em
São Paulo. Para o Rio eu também queria um lugar especial e consegui a Lona
Cultural de Realengo (estilo centro cultural), nos subúrbios, chama-se Lona
porque eles usaram as estruturas que serviu a ECO 92, eram lonas provisórias e
viraram essas lonas culturais.
Mas nós não eramos oriundos dos subúrbios, eramos da zona
sul. Sendo eu novamente o produtor, eu paguei o aluguer da Lona, fiz os
ingressos, fiz a divulgação, inclusive aluguei um ónibus (autocarro) para fazer
o transporte, que viria a fazer o itinerário saindo de Copacabana, passando na
Tijuca e até Realengo que é um lugar longe, eu apelidei de Bonde do Metal,
bonde é o nosso nome dos eléctricos antigos.
Então foi um evento grandioso e no Rio eu também consegui
levar o grupo Salário Mínimo, eles quiseram participar no show em São Paulo mas
não dava, porque era pouco tempo, mas foram para o Rio, foi um evento grande,
um coisa que envolveu 4 bandas, envolveu o transporte que foi um dia no Rio e
outro em São Paulo, distância de 400km, e foi um sucesso, que nós também filmamos.
P. - Alguma vez pensou em repetir o evento no futuro?
André - Com esse sucesso, todo o mundo se empolgou,
criou-se uma união com as bandas, a partir daí, um espirito muito bom, e no ano
seguinte eu falei que queria fazer novamente e o Batalha aí nesse ponto, foi
ele que me ajudou muito, eu tinha uma ideia mas só empresarial, e ele formatou
a ideia, e disse que teríamos de batizar esse show.
O Batalha tinha feito lá no “Manifesto” um festival
chamado Peso Brasil, ele mesmo sugeriu porque não Super Peso Brasil? Mas tínhamos
de fazer uma coisa maior, eu quis fazer no Carioca Club em São Paulo, que era um
lugar onde os Scorpions tinham tocado, um lugar para 3000 pessoas, um lugar
onde no dia anterior ao Metalmorphose tocou o Yngwie Malmsteen, eu vi ele
passando som lá. Para este evento eu entrei com tudo! Como investidor, como produtor
desse show, e eu fiz o seguinte cálculo, se colocarmos 400 pessoas conseguimos passar
do prejuízo para o lucro, então o objectivo era esse, pelo menos 400 pessoas. E
o show foi muito bom, cada banda teve uma participação especial, ideia do
Batalha. Eu contratei uma equipa de produção, tinha que ser tudo muito cronometrado,
contratei uma equipa de segurança, catering, tudo! E pensando no futuro eu
contratei uma equipa de filmagem e gravação de áudio. O Gustavo Andriewski, que
produz todos os discos de Metalmorphose, foi para São Paulo com o equipamento
dele e gravou o que depois viria a ser o “Máquina ao Vivo”, eu paguei apenas o
registo, e deixei para mais tarde a questão da edição e mixagem, e foi uma
coisa fantástica até hoje o pessoal das bandas e os fãs guarda uma lembrança
muito querida, não é que a casa estava lotada mas foi muita gente, e foi um
evento bem-sucedido, foi em 2013 e ficou esse desejo de repetir, por isso é que
estava com a ideia de um dia fazer um evento Super Peso Brasil-Portugal, incluindo
bandas portuguesas, seria fantástico imagina fazer Rio de Janeiro, São Paulo,
Lisboa e Porto, ia ser lindo demais! Levando artistas portugueses para lá e
brasileiros para cá, mas isso é um sonho, por enquanto.
P. - O Fernando Roberto da Metal Soldiers Records teve um
papel importante editando os álbuns dos Metalmorphose em Portugal desde a
colectânea "Nossa Droga é o Heavy Metal", como surgiu essa
colaboração?
André - O Fernando teve um papel certamente
importantíssimo porque Portugal era uma terra muito longínqua! Dificilmente as
coisas de Portugal também chegam no Brasil, apesar de termos uma relação comum
com a língua, não existe assim um intercâmbio cultural contemporâneo e dinâmico,
nada disso, então por exemplo as bandas portuguesas não chegam ao Brasil. Eu
ouvi falar no Fernando, que estava lançando bandas brasileiras em Portugal e
isso criou um movimento lá dentro entre as bandas, um frisson, ele era
conhecido lá no Brasil como "O Português" que estava lançando discos
em Portugal, no início lançou o Stress.
Acredito que tenha sido eu a entrar em contacto com ele, não
me lembro ao certo, de qualquer forma desde o primeiro contacto o Fernando foi sempre
muito receptivo, muito interessado, muito sério, e a nossa primeira colaboração
foi essa do "A Nossa Droga é o Heavy Metal", ele quis lançar o nosso
material dos anos 80, ele criou esse formato, ele pegou o material do Ultimatum
que era um split com Dorsal Atlântica (um lado só) e a demo que eu acabei por
lançar no Brasil como o álbum “Maldição”, e coloquei algumas faixas ao vivo dos
anos 80 e o Fernando lançou esse título, tendo também feito a capa. A partir
daí ele lançou em Portugal pela Metal Soldiers quase todo o material do Metalmorphose,
lançou o Máquina dos Sentidos e lançou o Fúria dos Elementos. O álbum ao vivo
não teve nenhuma edição Portuguesa, vai sair agora o Odisseia, pela Metal Soldiers,
havendo ainda também planos para o Ação & Reação, que é um disco que talvez
futuramente seja editado em Portugal.
Mas o Fernando realmente foi uma coisa extraordinária
para todos nós, essa abertura aqui em Portugal, eu fico feliz de ouvir de você
e de outros, aqui em Portugal, que conhecem as bandas Brasileiras e o nosso
trabalho, através do Fernando, porque inclusive ele lançou materiais raros,
coisas que não eram de fácil acesso, nem para os fãs no Brasil, eu apelidei o
Fernando imediatamente de embaixador, o Fernando era o embaixador do Brasil em
Portugal.
P. - André, o que levou você a abandonar os Metalmorphose
em 2017, depois de um álbum de grande qualidade como o Ação & Reação?
André - A minha saída do Metalmorphose, foi dura para
mim, foi penosa, porque eu considero um projecto filho, um projecto que, naturalmente
com a colaboração dos meus companheiros, mas que eu criei, fui eu que pensei em
todas as diretrizes, pensei em tudo, na nossa estrada, fui a pessoa que
encabeçou, tanto é que eles me deram um apelido de Capitão, chamavam-me de
Capitão, e eu quando me mudei para Itália por razões pessoais de família, não
só minha, como de minha esposa também eu fisicamente abandonei a banda e fui
substituído pelo Marcelo Val, grande baixista que tocou em Imago Mortis entre
outras bandas, eu deixei o material pronto e inclusive gravei as partes de
baixo, do Ação & Reação, e os backing vocals eu gravei na Itália, para
finalizar o disco e em 2017 eu praticamente já não estava no grupo, apesar de
eu participar de todas as decisões, tudo continuava passando por mim, e no
fundo eu fiquei satisfeito com essa história do grupo ter-se dissolvido, porque
eu não estava gostando do caminho que eles estavam tomando, das musicas novas,
da maneira que estava sendo conduzido, não nos estávamos entendendo e eu acabei
ficando feliz com a noticia que o grupo tinha cessado as actividades.
Na verdade o que aconteceu foi o seguinte, o Pedro Paulo
Cavalcante (PP), já vinha mostrando vontade de sair do grupo, e o Marcelo Val,
baixista que me substituiu, também. Logo em seguida que eu vim para Itália, o
Tavinho também tentou vir para o exterior, tentou mudar de vida, foi para a
Irlanda e da Irlanda ele acabou vindo para o Porto, ele veio para Portugal e
ficou alguns meses aqui e acabou voltando para o Brasil, não deu certo, o
casamento dele também não deu certo, mas o Tavinho tinha saído do grupo então estava
só o André Delacroix, o Marcos Dantas e o Trevas, que era o cantor que substituiu
o Tavinho, eles resolveram adicionar o baixista que era do Azul Limão, e como o
Marcos também era do Azul Limão, então acabaram por retomar o Azul Limão o que
eu achei muito bem, fico satisfeito que tenha sido dessa maneira, porque para eles,
como Azul Limão é muito mais legitimo do que como Metalmorphose, sem mim, sem o
Tavinho e enfim, foi assim que aconteceu, não dá para ter uma banda com você do
outro lado do planeta!
Então os últimos shows que eu fiz com Metalmorphose foram
justamente o lançamento do Acão & Reação, fizemos um show no Rio e um show
em São Paulo que foi muito legal, que foi com o Trevas, há registos disso na
internet.
Realmente o Acão & Reação foi um grande álbum,
justamente por isso eu não gostaria de ver a banda entrar em decadência, fazendo
uma coisa pior.
P. - Você está morando em Portugal desde 2019, a que se
deveu essa mudança? Ambientou-se ao país?
André - Na verdade foi um ajuste, que foi muito feliz, a
nossa família saiu do Brasil por vários motivos, desde motivos de saúde da minha
mulher, que fez um tratamento na Itália e que felizmente ficou totalmente
curada, e nos morávamos numa cidade muito bonita, muito pitoresca mas uma
cidade pequena, pacata, nos alpes italianos, a capital do Valle d’Aosta, que é uma
região autónoma da Itália que faz fronteira com a França e com a Suíça. Da
minha casa eu estava a meia hora da Suíça, e a meia hora da França, os dois
tuneis, nós resolvemos dar esse passo adiante. Lisboa é uma cidade maravilhosa
que nós não conhecíamos uma coisa até curiosa porque como somos de origem
italiana, minha mãe é de origem italiana, e os meus avós, nós tínhamos uma
relação maior com a Itália, apesar do idioma, do que com Portugal, e quando
conheci Portugal em 2017 eu pensei em vir para cá, eu me sinto em casa, me senti
muito acolhido também por todos, eu acho eu me sinto à vontade, eu estou em Portugal
eu estou em casa, eu me sinto português, e disse ao meu filho, que todos os
brasileiros têm origem portuguesa, enfim estamos aqui de caracter definitivo,
até quando Deus quiser! Eu estou há 5 anos fora do Brasil não tenho planos para
voltar.
P . -Que outros projectos você tem? Continua a trabalhar
em músicas com vista a editar no futuro?
André - Eu sou tradutor de filmes e séries de TV,
programas de televisão, para efeitos de dublagem (dobragem), eu trabalho para estúdios
no Brasil, eu continuo mantendo uma empresa no Brasil, e os meus clientes são
norte americanos, apesar de eu fazer também traduções do italiano, fiz
traduções de filmes e séries do italiano para o português, fora isso os meus
projectos musicais tenho muitos, mas eu estou querendo ambientar-me plenamente
ainda, eu não tenho pressa, eu gostaria de encontrar músicos, instrumentistas,
parceiros, ou compositores, eu tenho um desejo, eu tenho muitas musicas que eu
já fiz que eu já gravei, então é uma coisa que eu faria naturalmente se eu
estivesse no Brasil, mas eu posso fazer isso aqui em Portugal com músicos
portugueses ou até brasileiros, mas eu não faço a menor questão que sejam
brasileiros, podem ser estrangeiros também, na Itália era mais difícil porque
as minhas musicas são todas em português. Eu inclusive, conheci um cantor na Itália
muito talentoso chamado Jeff Vinci, ele era lá da minha cidade e nós fizemos
uma versão em italiano de uma musica minha do Metalmorphose, uma musica
brasileira, Tudo na Vida Tem Seu Preço, então eu fiz a tradução, o Jeff ajudou
na versão, fizemos a letra em italiano, ele cantou em cima da base gravada pelo
Metalmorphose, esse vai ser um dos bónus, quando o Fernando lançar o nosso Acão
& Reação, terá 5 faixas bónus, especiais para a edição portuguesa, mas isso
para o futuro, tudo para dizer que fiz uma colaboração com um italiano que se
chama "Nella Vita Tutto Ha Un Prezzo" está no youtube, fiz até um
videoclip que inclusive me rendeu uma reportagem num jornal local, La Stampa, que
fez uma reportagem sobre mim, sobre a minha carreira minhas musicas e tudo isso
lá na Itália, mas começar uma banda lá era muito difícil, mas aqui em Portugal
eu já fico muito animado com isso, talvez também adquirir equipamento para
começar até a gravar algo por aqui eu posso até começar a fazer colaborações
com gente do Brasil, mas isso não é para já, é para o futuro.
P. - Pode-nos dizer qual é o estado actual da banda
Metalmorphose?
André - No momento o Metalmorphose está inactivo, mas a
obra está muito viva, porque o material está todo oficialmente nas plataformas
digitais, no spotity no imusic, no youtube e os discos que estão disponíveis no
Brasil e aqui em Portugal, através do Fernando Roberto (Metal Soldiers), e de
momento estou organizando uma loja virtual para o Brasil porque esse material
está meio parado, então é isso o Metalmorphose está inactivo.
P. - Já considerou a ideia de reagrupar os Metalmorphose
no futuro?
André - No momento não há essa ideia, eu acredito que
tudo é uma questão de “timing” assim como foi naquele momento que nos reunimos,
foi um momento de timing perfeito, no momento actual não estamos no timing
certo, mas no futuro nunca se sabe, Metalmorphose é uma coisa que eu tenho no
coração, muito querida e as pessoas estão aí inclusive eu falo sempre com o
André Delacroix o baterista, estou sempre em contacto com ele, nós começamos a
tocar juntos eu tinha 15 anos e ele 17 e até hoje nós temos muito contacto falo
com ele quase que diariamente mas no momento não há planos concretos para que
tal aconteça. Mas quem sabe talvez até organizemos um concerto aqui, quem sabe
não venha a haver uma Odisseia, talvez uma Odisseia portuguesa! Sei lá! Ou que vá
eu para o Brasil. Quem sabe! Só Deus sabe!
P. - Algumas considerações finais para terminar a
entrevista?
André - Para finalizar eu gostaria de agradecer a tua paciência,
obrigado por tudo!
Votos de felicidades para o futuro e muito obrigado pelo
tempo dispensado!
English version
Metalmorphose came
about in 1983, their first album was a split LP with Dorsal Atlântica called
"Ultimatum", in 1985. After a long break, the band returned in 2008,
and since then released a good number of albums, until 2018. We talked to the
bassist and mentor of the project, André Bighinzoli, about lots of things regarding
the band.
Q. - Hello André! Tell
us about the beginning of Metalmorphose, how did the idea of the band came up?
Tell us a bit about your story!
André – It was nothing
special, we were all still teenagers, and Metalmorphose was our first band.
When I was 7, I started taking acoustic guitar lessons while I was living in
Brasilia. Then my family moved back to Rio de Janeiro and I kind of lost interest
until I discovered rock and music in general some time later. It was the seventies,
the "disco era", and I was very interested in the sound of the bass. Also,
I remember seeing photos of the great bands and finding guitar players too
flashy. I liked the coolness of the bass players, for instance, John Paul Jones,
from Led Zeppelin. When I was 13, my grandad gave me the present of my life. In
Brazil, in the early eighties, a law prohibited the importation of any product
that had its similar manufactured in the country, so we didn’t have access to good
quality musical instruments at that time. In one of grandad’s trips to Italy,
his home country, he brought me an American Fender Jazz Bass. It was crazy! The
bass costed a fortune at the time, about 2000 dollars, but that instrument made
me took the bass seriously.
One afternoon, a
friend came to my house asking if I wanted to see a real band rehearsing. Some of
his friends were jaming at Marcelo Ferreira's house, who was playing with Celso
Suckow and drummer Walter Costa on an improvised drum kit. They were looking
for a bass player and Celso invited me to the band he was forming with Marcelo,
Tavinho Godoy on vocals and André Delacroix on drums. The following week, I arrived
with my amp, and so “Pena de Morte" was formed. The name that means “death
penalty” was actually a suggestion of mine derived from a song I had written. After
some time, we changed the name to Metalmorphose, in 1983. I was 14, and the
oldest member was Tavinho, who was 17, we were just kids.
Marcelo and Celso
already had songs, and when I joined the band I also started to write more songs.
We included a few covers from bands like Manowar and Judas Priest on the
repertoire, but we played mainly our original material. In Brazil, it was the
end of the military era, and Rock and Metal were specially irreverent in our
society. Metal was all about attitude. We had long hair, we didn’t followed 80’s
fashion, we were dark and wouldn’t get a tan at the beach. This irreverence was
reflected in our lyrics, our first song was called “Rock 'n' Roll No Inferno” (Rock'n'Roll
in Hell). We tried to follow the style of great bands, like Black Sabbath, which
we admired very much.
It's funny the automatic
aversion that one generation has over its immediate previous one. We hated the
Hippies, which was our previous generation at that time, the peace and love generation.
We were headbangers, we thought it was horrible, and wanted to be the opposite
of that movement.
Q. - What were the
main difficulties at the time you formed Metalmorphose?
André - The great difficulty
was to break in the commercial sphere, to have our music played on the radio,
for instance. In Rio there was Radio Maldita (Radio Fluminense FM), Dorsal
Atlântica had a song on the radio playlist, Azul Limão too. They were older
than us, Marcos Dantas, who played with Metalmorphose many years later, is nine
years older than me, and so is Carlos Vândalo from Dorsal (who was known as Carlos
Punk at the time), it was a big difference. Radio Fluminense embraced the Brazilian
Rock movement, more softy, with bands like Barão Vermelho, Kid Abelha, Legião
Urbana, Ultraje a Rigor, Herva Doce, Lobão, but metal was restricted to one weekly
program, Guitarras Para o Povo (Guitars to The People).
The specialized press,
the gigs, the whole scene did not exist then, we were very young and we got
only bizarre places to play. We played at the "Bar Opinião", located
at the Pão de Açúcar cableway station, above a steakhouse, we did 2 gigs there,
including one with Dorsal Atlântica. Later, Metalmorphose managed to play at
"Teatro Planetário" (planetarium theater), a place that had
absolutely nothing to do with Metal, they usually gave us Monday to play and we
filled the place everytime.
Q. - Who were your
major influences and favourite bands at the beginning of the band?
André - Our main
influences were Iron Maiden, Judas Priest, AC/DC, Motorhead, Black Sabbath… and
also Deep Purple, MK2.
We saw bands like
Manowar, Metallica, Anthrax and Slayer, in their beginning and I remember that
Celso, who had more money, used to buy records from American labels, by mail,
even without knowing the bands, he ordered the records from independent labels
such as Music For Nations just because of their names, those records that did
not exist in Brazil.
When the first Rock In
Rio happened, in January 1985, as it was a commercial event, all at once the record
labels released old material from bands like Queen, Van Halen, AC/DC,
Whitesnake, Ozzy Osbourne, Black Sabbath, due to the festival. With this phenomenon,
opportunity came up, and EMI launched a sub-label in Brazil called Heavy Metal
Attack and released heavier bands like Iron Maiden, Accept, Wasp… it was new and
good for us.
Q. - How did your
debut with the album "Ultimatum" happen? How did the idea of making a
"Split" with Dorsal Atlântica come up?
André – In 1984, we met
the people from Dorsal Atlântica, which we admired, because they were older and
they were a true Metal band and used to make a big impact live. Celso had a
rehearsal room and he offered the space to Dorsal to use it for free. At that
time, they wanted to make an album and Carlos Lopes was looking for bands from
São Paulo. But, as it turned out, according to Carlos, in his book, “Guerrilha”,
where he tells Dorsal Atlântica’s history, as they needed a place to rehearse
and a band to share the costs of the album and Metalmorphose was available, it
pretty much sorted everything out. Recorded in late 1984 and released in
January 1985, Ultimatum was both a blessing and a curse, because Metalmorphose
was not ready, we were just kids, I have recorded the album at the age of 15,
do you know any record with a 15-year-old bass player? Yeah! But the songs were
ours. On the other hand, Dorsal Atlântica was already much more consolidated as
a band, so there was a kind of a dichotomy, the fans were divided, most of the
fans supported Dorsal, and rejected Metalmorphose. So, we managed to turn that page
immediately and started composing and working on new material that was recorded
in 1986, a demo with the songs "Minha Droga é Metal", "Maldição",
"Ela Tem Sempre Uma Desculpa", "Rebeldia". At the time, this
demo never got to be an album, it was never commercialized, but there was a
diffusion, there was a huge spread, people copying the tapes and stuff, the
demo ended up far away. That demo is Metalmorphose on its best, the high point
of the band in the 80’s. In 2009, the material was finally released on CD format
in Brazil as “Maldição”, and Metal Soldiers, in Portugal, through Fernando
Roberto, released it in Europe in 2010 in the compilation "Nossa Droga é o
Heavy Metal" (our drug is heavy metal) along with all the Matalmorphose’s material
from “Ultimatum”.
I left the band at the
end of 1985, for some silly reason I can’t recall now, but we used to argue a
lot. I remember Celso was very bossy and we had to practice every weekend. We argued
many times, and one day I simply left the band, they asked bass player to join
in, simple as that. All the demo material was ready, music, arrangements,
everything… and in the end, it was Plínio Júnior, my substitute, who recorded
it. He joined the band on the same month Metalmorphose recorded the demo that
had been composed with me.
Q. - The single
"Correntes" was released in an independent way in 1986, was it
difficult to find a label at that time?
André - That was a crucial
time for Celso, Marcelo and André Delacroix, it was time to go to college and that
was more important than the band, especially for Celso and Marcelo whose families
owned companies. Celso's father owned a building company, and he was studying to
be an engineer, and the band itself started to be more on background.
They made "Correntes"
in 1986, but they had a record label, CID (Companhia Industrial de Discos -
Industrial Company of Records), which launched many artists in Brazil. They
made a deal at the time with this record company. I don't know the story very
well because I was no longer in the band, but it seems there were some
disagreements at the end, after recording and pressing the record, there was some
contractual problems and CID decided not to release the material and these
records were to be destroyed. The story says, and this was confirmed by Carlos
from Dorsal Atlântica himself, that Carlos was at CID and saw the records being
taken to the trash and asked the employee to let him take some, and he ended up
taking about 50 records. I don't know exactly how many he was able to save and
that is all that was left over from “Correntes”.
Q. - What led
Metalmorphose to break up in 1989? What do you think went wrong so that the
project did not have continuity?
André - After
“Correntes” there was a void, Metalmorphose since then became practically an
inactive band. They focused on making a great demo to win a contract with a big
record company and became influenced by Hard Rock movement. Dorsal, for instance
took another path, they became more and more radical, while Metalmorphose went
to the Hair Band phase, but they didn't play live anymore. With the lack of
concerts, André Delacroix, the drummer, left the band in 1986 and did not
record the single "Correntes". Walter Costa joined the band, the same
drummer who were jamming when I first met the band, and he told me in an interview
on "Canal Metalmorphose" that they never did a live concert with him.
So, the last Metalmorphose concert was with André Delacroix on drums in 1986,
and so we can say the band stopped way before 1989. In the last period, they
had made a few more songs, some demos, still with Tavinho on vocals, until they
finally changed the band’s name when he also eventually left. Marcelo and
Celso, still play together today, just for fun, doing another kind of sound. So,
I think the band really ended in 1986.
Q. - Did you keep in
touch after the band split?
André - We kept each
other on our addresses book, but our contact was very eventual, very sporadic, socially
we did not had interaction, but nobody has really lost contact.
Q. - What other
musical projects did you have during the Metalmorphose break?
André - I was involved
with some bands. As soon as I left Metalmorphose, I went through a band called
Segundo Movimento (second movement), then I met some people from the University
of Santa Úrsula, very good musicians, I always liked to be around people who can
really play, among them there was Darwen Schiavini who became my friend and musical
partner, and we made a band called Heramus, very good band, you can listen to
it on Soundcloud. Heramus eventually became DNA, which was a band that had a
certain success, we had a deal with the record label Eldorado, from São Paulo,
and released a CD in 1998, then this group kind of fell apart and resurfaced as
Genoma, when Pedro Paulo Cavalcante joined us (who later I called to reinforce Metalmorphose
on the guitar). I still work with Darwen, he wrote the lyrics of Metalmorphose’s
“Solução” from the album “Ação & Reação”. Genoma was an excellent band where
I sang lead along with Darwen, it has a special place in my heart. For this
year, I asked Gustavo Andriewiski, the producer of all Metalmorphose’s records,
to finish the recordings Genoma started in 2003, with drummer Pedro Ariel
(Pedrinho) who sadly passed away some time ago. I want to finish this album, and
I look forward to resume the band’s project here in Portugal with Portuguese
musicians.
Q. - How did the idea
to bring Metalmorphose back in 2008 came up?
André - The return of
Metalmorphose was due to an external factor, I think nobody thought that the
band would ever return, or would perform live again and be successful. We had a
bit of success back then, with the songs playing on the radio, the album
Ultimatum, but we were very young, so 25 years later a friend called me and we
went to see a concert of Stress and Azul Limão. I found them still pretty cool
on stage, much older. I thought no one would remember me, but people started to
talk to me, ask me for autographs, people who still remembered Metalmorphose. I
even met a couple who had made a Metalmorphose dedicated page on Orkut and I felt
excited about that. The next day I took my old phone address book and called
the group, I called Celso who was the leader of the band and proposed a show, a
comeback with all our old songs. I learned that there were bands making covers
of Metalmorphose songs, that this material had already become bootleged and
there were Ultimatum records being sold for 100 dollars on the black market.
Everybody got excited
about that idea. Coincidently, Marcelo Fróes was organizing a tribute to the
Beatles, Marcelo is a famous producer in Brazil, and he was doing the tribute
to the 40 years of the Beatles “White Album" with many famous artists. I recorded
“Glass Onion” as a solo artist, and Metalmorphose went to the studio for the
first time in decades and recorded “Sexy Sadie”. And that was it. Once we got
back together, the fire started all over again.
Actually, the drummer
André Delacroix, Tavinho and I, were really excited, but the two guitar players,
Celso and Marcelo, got excited in the beginning, but then they started to lose
interest. At that moment, I asked Mario Sevciuc to join in. He’s a very good
guitar player, you can hear him on Odisseia recordings. Mario assumed alone the
role of the two guitarists and we could rehearse properly for the comeback show
we were planning. I went to see Celso and explained we’d like to continue with
Mario because he and Marcelo wouldn’t agree to play small gigs, and certainly would
not want to play outside Rio de Janeiro. He gave us his blessing and that was
it. We started working with Mario, we did Odisseia which was a milestone for
the band, and then I had the idea, which André Delacroix was not fond in the beginning,
of making a new album with new material.
So, since 2009, the history
of the band changed forever, because this new album ended up being "Máquina
dos Sentidos" and this marked a whole new phase for the band... 25 years
later.
Q. - Tell us a bit
about how the idea of organizing the "Super Peso Brasil" festival
came up?
André - In 2012, when Metalmorphose
released "Máquina dos Sentidos", I wanted to do concerts in Rio de
Janeiro and São Paulo. But I wanted to play a nice venue in São Paulo, in a
cool place, it was important because people there didn’t know Metalmorphose
live. I went to São Paulo, called my friend Ricardo Batalha, editor of the
magazine Roadie Crew, which is the biggest metal magazine in Latin America, and
we went to Manifesto Rock Bar. Manifesto was an important place, it wasn't very
big but even famous international artists had played there. Batalha introduced
me to the owner and I proposed to make a concert there with Metalmorphose and
Stress. I would bring Stress from Pará state (3000 km away) and be the producer
of two concerts, in Rio and São Paulo, and he agreed to book us a date. Batalha
suggested me to put a local band that also was coming back from the 80’s, and
so I put Centurias on the bill. For the Rio concert, I also wanted a special
place to play and we got "Lona Cultural de Realengo". As Lona is
located a little far in the suburbs, I hired a bus for the fans, people bought
the ticket for the concert plus the round trip bus that left from Copacabana to
Realengo. As the producer, I also paid the rent of the place, made the tickets,
made the promotion and everything, and the effort was worth it.
For the concert in Rio
I also managed to put Salário Mínimo, another band from São Paulo. It was a big
event, something that involved 4 bands, involved transportation from Rio to the
concert the next day in São Paulo, 400km away, and it was a success. Everything
was also filmed and recorded.
Q. - Have you ever thought
about repeating the event in the future?
André - With all the
success, everyone was excited, a bond was created between the bands with a very
good spirit, and the following year I said I wanted to do it again, and Batalha
at that point helped me out a lot. I had the business idea, and he shaped that
idea. The first thing he said was that we needed a name for this event. As he produced
a little event at Manifesto called "Peso Brasil", he suggested it could
be "Super Peso Brasil". But we had to do something bigger than last year,
I wanted to do it at the Carioca Club, in São Paulo, which was a place bands
like Accept and Scorpions had played, a place for 3000 people. (I saw Yngwie
Malmsteen making his soundcheck there the day before I played there with
Metalmorphose) For this event I entered with everything, as investor and producer
of this show. I made the calculations, if we put 400 people we could move from
loss to profit, so the objective was that, at least 400 people. And the show
was very good, each band had a special guest, another idea from Batalha. I
hired a production team, everything had to be on the clock, I hired a security
team, catering, everything… And thinking about the future, I hired a film and
audio recording team too. Gustavo Andriewski, who produced all Metalmorphose
records, went to São Paulo with his equipment and recorded what would later
become “Super Peso Brasil”, I've paid for the recording, and left editing and
mixing for later, and it was a fantastic thing until this day, the bands and fans
still keep a very dear memory, the bill was not sold out but there were a lot
of people, and it was a successful event, it was in 2013 and we never made
anything like that again. Maybe one day we can do a Super Peso Brasil-Portugal,
including Portuguese bands, that would be awesome, imagine doing Rio de
Janeiro, São Paulo, Lisbon and Porto, it would be amazing! Getting Portuguese and
Brazilians artists together, but this is just a dream for now.
Q. - Fernando Roberto
from Metal Soldiers Records had an important role editing Metalmorphose albums
in Portugal, since the collection "Nossa Droga é o Heavy Metal", how
did this collaboration come up?
André - Fernando
certainly had a very important role because Portugal was very distant from us. Things
from Portugal don’t arrive often in Brazil, although we have a common language,
there is not such a thing as a contemporary and dynamic cultural exchange, nothing
like that, so Portuguese bands do not arrive in Brazil. I heard Fernando was
launching Brazilian bands in Portugal, and that created a kind of frisson within
the bands, he was known in Brazil as "The Portuguese" that was
launching the Stress records in Portugal.
I believe that it was
me who got in contact with him, I'm not sure, anyway, since the first contact
Fernando was always very receptive, very interested, very serious. Our first
collaboration was "A Nossa Droga é o Heavy Metal" (our drug is heavy
metal), he wanted to release our material from the 80’s, so he took the
material from Ultimatum which was a split with Dorsal Atlântica (one side only)
and put together with the demo that I ended up releasing in Brazil as the CD
“Maldição”, he also added some live tracks from the 80's, and Fernando released
that album, having also made its cover. From then on he released in Portugal by
his label Metal Soldiers, almost all the material of Metalmorphose, like
"Máquina dos Sentidos" and "Fúria dos Elementos". The live album
“Máquina ao Vivo” has no Portuguese edition, but Odisseia is coming out now and
there are also plans for “Ação & Reação” to be released in Portugal in the
future.
Fernando really was extraordinary
for all of us, this opening here in Portugal, I am happy to hear from you and
other people, here in Portugal, that know the Brazilian bands and our work
through Fernando, because he released rare materials, things that were not easy
to find, not even for Brazilian fans, I call Fernando our “ambassador in
Portugal”.
Q. - André, what led
you to leave Metalmorphose in 2017, after a high quality album like "Ação
& Reação"?
André - My departure
from Metalmorphose was hard for me because I see it as my project, naturally
with the collaboration of my colleagues, but something I have created. It was my
vision, I thought of everything, they even gave me the nickname of Captain. In
2016, I moved to Italy for personal and family reasons but left all the material
recorded, all the bass parts of our next album Ação & Reação. I had to physically
left the band and was replaced by Marcelo Val, a great bass player who played with
Imago Mortis and other great bands. I've recorded the backing vocals for Ação &
Reação in Italy. When the album was released in 2017 I was no longer with them,
but I took part of all the decisions. After that, it was starting to be
difficult for me with the distance, and, honestly, I was happy when the band finally
broke up, because I didn't like the path they were taking, the new songs, the
way everything was being conducted, we were not getting along. Pedro Paulo Cavalcante
(PP), was already showing signs he would leave the band, and Marcelo Val, the bassist
who replaced me, too. Right after I came to Italy, Tavinho also left Brazil, he
tried to change his life, he went first to Ireland and then to Porto, he stayed
a few months Portugal and ended up going back to Brazil, as things didn't work
out for him. I was happy when they told me the band would stop. The group ended
up with only André Delacroix (the only original member of Metalmorphose),
Marcos Dantas and Trevas, the singer who replaced Tavinho, so they decided to call
the bass player from the old Marcos’ band, Azul Limão, and resumed the work with
the name Azul Limão, which I thought was a very good decision, because it made
more sense than an empty Metalmorphose without me and Tavinho. Unfortunatelly, it’s
impossible to have a band on the other side of the planet.
So, the last shows I
did with Metalmorphose were the launch of "Ação & Reação", we did
one concert in Rio and one concert in São Paulo that were really cool, with
Trevas on vocals, there are videos of that on youtube. Actually, "Ação
& Reação" was a great album, and precisely for that reason I wouldn't
like to see the band in a downfall.
Q. - You are living in
Portugal since 2019, what was the reason for this change? Did you get used to
the country?
André - In fact it was
an adjustment, a very happy adjustment, I moved with my wife and kid from Brazil
to Italy in 2016. We lived in a very beautiful small and quiet town in the
Italian Alps, in Valle d'Aosta, which is an autonomous region of Italy
bordering France and Switzerland. Lisbon is a wonderful city that I didn’t
know, something curious because as I have Italian origins, my mother was born
in Italy, we had a bigger proximity with Italy, despite the language, than with
Portugal, and when I first visited Lisbon in 2017 I thought of coming to live here,
I really feel at home, I felt very welcomed by everyone, I'm feeling very well,
I'm feeling Portuguese, I told my son that all Brazilians have Portuguese
origins. We are here indefinitely, but only God knows! I have been out of Brazil
for 5 years and I have no plans to go back living there for now.
Q. - What other projects
do you have? Are you still working on musics thinking about releasing them in
the future?
André - I am a film
and TV series translator for dubbing purposes. I work for studios in Brazil, I
still have a company in Brazil, and my clients are from the United States and
other countries. I also translate from Italian to Portuguese. Apart from that,
I have many musical projects, but I'm still adapting my life here in Portugal.
I'm not in a hurry, but I’d like to meet musicians, music partners and
composers. I have many songs and many haven’t yet being recorded, which is
something I would do naturally if I were in Brazil, but I can do it here in Portugal
with Portuguese musicians. In Italy it was more difficult because my songs are
all in Portuguese. I met a very talented singer in Italy called Jeff Vinci, we
did an Italian version of a Metalmorphose song, "Tudo na Vida Tem Seu
Preço" (everything in life has its price), I did the translation and Jeff
helped with the version, we wrote the lyrics in Italian, he sang over the base
recorded by Metalmorphose, "Nella Vita Tutto Ha Un Prezzo" it’s on YouTube,
I even made a video clip that yielded a story in the local newspaper, La Stampa,
about my life and music career. This will be one of the 5 bonus tracks for the Portuguese
edition of "Ação & Reação" in the future, maybe in the future I’ll
also acquire equipment to start recording something here in collaboration with
people from Brazil.
Q. - Can you tell us the
current status of the band Metalmorphose?
André - At the moment
Metalmorphose is inactive, but the work is very much alive, because the
material is all officially on digital platforms and the records are available
in Brazil and worldwide, through Fernando Roberto (Metal Soldiers).
Q. - Have you ever
considered the idea of reforming Metalmorphose in the future?
André - At the moment
there is no such idea. I believe that everything is a matter of timing, as it
was at that moment when we got together in 2009, it was a moment of perfect
timing, at the moment we are not in the right timing, but in the future you
never know. Metalmorphose is something that I keep very dearly in my heart, and
the people are still around, I often talk to André Delacroix the drummer, I'm
always in touch with him, when we started playing together I was 15 and he was
17 and even today we talk almost daily, but at the moment there are no concrete
plans for this to happen. But who knows, maybe we will organize a gig here,
maybe there will be a new Odyssey, maybe a Portuguese Odyssey! I do not know.
Q. - Anything more you
want to say, to end up this interview?
André - Finally, I
would like to thank you for your patience, thanks for everything!
Thank you for your
time, and wish you all the best for the future!
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