Formados
em Cascais no ano de 1979, o nome NZZN surge como um acrónimo dos seus três
elementos fundadores: Necas (guitarra), Zica (bateria) e Zé Nuno (baixo).
Inicialmente
como banda de covers, onde tocavam temas de Van Halen ou AC/DC, os NZZN pronto
se dedicaram a tocar material original com a chegada do famoso “boom do rock”,
onde surgiu um grande número de novas bandas a tocar rock em Português.
Ficamos
com o testemunho do Zica e do Zé Nuno sobre os seus anos nos NZZN.
P. -
Zé Nuno, fala-nos um pouco de como nasceu o teu interesse pela música, assim
como do teu percurso até chegar aos Aranha.
Zé Nuno – Para mim tudo começou
com o entusiasmo pela música que o meu pai me incutiu, ele próprio com um
historial musical na sua juventude como saxofonista da banda do Alandroal e que
paralelamente à mesma havia também formado, com outros elementos da mesma
banda, o conjunto local a que deram o nome de “Os Independentes”. Lembro-me de
me marcar tarefas diárias de solfejo, a que eu me tentava esquivar pois achava entediante
sem o acompanhamento a partir de um instrumento. Por volta dos meus 13-14 anos
comprou-me uma guitarra acústica na Custódio Cardoso Pereira, na altura na Rua
do Carmo, onde já trabalhava o nosso amigo Franjas, muito magrinho na altura
como, de resto, todos nós.
Por volta dos meus 15 anos, fui
alvo do interesse de um vizinho mais velho, que tinha feito parte do Conjunto
Mistério (se bem me recordo era este o nome, actuavam todos de mascarilha), o
Emanuel, que me pôs a tocar baixo numa guitarra de 5 cordas naquele que viria a
ser o meu primeiro concerto: foi no Liceu Charles Le Pierre, perante um público
convidado, com temas de Beatles e outras bandas dos anos 60.
Na altura havia um conjunto na
Buraca, onde eu morei desde os 5 até cerca dos meus 20 anos, chamado “Os
Átomos”, onde tocava o Zé Carrapa (guitarra) e o Falé (baterista). Como eles
tiveram de sair do conjunto para cumprir o serviço militar, o manager e dono da
banda, Sr. Faia (já falecido), também da Buraca, lançou mão dos jovens teenager
que na altura tinham adquirido uma guitarra e lutavam com o instrumento na
tentativa de aprender alguma coisa. O baterista era o genro do Faia, o Henrique
Knoblick, dono de um irrepreensível rufo de tarola, do qual muito se orgulhava.
O reportório era constituído por canções dos Beatles, Joe Cocker, Santana e
muitos outros mas tudo em inglês. E, apesar de tocarmos em salas de baile e
para baile, tínhamos muito orgulho em não tocarmos nada em brasileiro, espanhol
ou outras línguas latinas, canções que considerávamos “foleiras”. Eu era o
guitarra solo na altura.
Pelos meus 17 anos surgiu o
convite para entrar no “Aranha” como baixista, precisamente por recomendação do
baixista deles, o Armando, dado que este iria para Angola por tempo
indeterminado.
P. –
Os Aranha eram uma banda de covers, que musicas costumavam tocar?
Zé Nuno - Na sua maioria eram
covers de grandes bandas de hard-rock da década de 70, designadamente, Deep
Purple, Uriah Heep, Black Sabbath, etc.
P. -
Zica, fala-nos também um pouco do teu percurso musical antes dos NZZN.
Zica
- Formei a minha primeira banda "OS Contrastes" em Campo de OURIQUE
nos anos 60 E tocámos covers desse tempo por Lisboa inteira durante cerca de 2
anos. Mais tarde toquei noutras bandas com músicos como o Luís Pedro Fonseca, por
exemplo até surgirem a terceira ou quarta formação do Aranha onde vim a
conhecer o Zé Nuno, o Necas e o Armindo. Daí nasceram os NZZN.
P. –
Em 1979 surgiram os NZZN, como surgiu a ideia de formar a banda, já se
conheciam anteriormente?
Zica
- Como referi anteriormente conhecemo-nos no Aranha.
P. –
Tenho entendido que o vocalista original de NZZN (Tozé), tinha um registo mais
“Bon Scott”, tendo o Armindo um registo mais “Ian Gillan”, isto levou a alguma
alteração na estruturação das musicas?
Zica
- Infelizmente não o fizémos por dificuldade de alteração de tons e sua
execução sobretudo na guitarra solo e eu vim seriamente a arrepender-me disso
porque, sobretudo no álbum Forte e Feio, alguns temas foram cantados uma oitava
abaixo pelo Armindo, coisa que não teria acontecido com o Tozé (que cantava no
Abismo e ainda canta no Ténis Bar)
P. –
Quais eram as vossas principais influências musicais no início da banda?
Zica
- Deep Purple, Scorpions, AC/DC e Van Halen, sobretudo.
P. –
Quais as principais dificuldades com que se deparavam naquela altura? Salas de
ensaio? Disponibilidade para ensaiar? Falta de material? Ou outras?
Zica
- Tínhamos tudo, inclusivamente uma sala de ensaios cedida gratuitamente em
Paço d´Arcos.
P. –
Para além das músicas dos singles, incluíam covers no vosso reportório? Quais
essas covers?
Zica
- Não. A partir do momento em que nos assumimos como NZZN, nunca mais tocamos
covers.
P. –
Sendo o “Shuy de Shock” um tema de autoria do Zica, porque não o incluíam no
vosso reportório?
Zica
- Já me perguntei várias vezes e talvez tenha sido porque a banda se desmembrou
antes de o termos incluído.
P. –
Algumas memórias sobre a festa de aniversário do Rock em Stock que queiras
partilhar connosco?
Zica
- Grande adrenalina, responsabilidade e emoção.
P. –
Como era a aderência do público aos vossos shows? Tinham uma base de fãs
grande?
Zica
- Era muito boa e suponho que tínhamos fãs q.b.
P. –
Como foi a vossa tournée como banda de abertura dos UHF durante 1981?
Zica
- Ótima. Deu grande projeção à banda.
P. –
Chegaram a compartir palco com os Ferro e Fogo ou os Xeque Mate?
Zica
- Não calhou.
P. –
As vossas letras mantêm-se actuais passados todos estes anos, de onde vos vinha
a inspiração?
Zica
- De estarmos permanentemente atentos aos acontecimentos quotidianos.
P. –
Zé Nuno, o que te levou a abandonar o projecto NZZN mesmo antes de entrarem em
estúdio para gravarem o álbum Forte e Feio? Não sentiste necessidade de gravar
o álbum?
Zé Nuno - O Necas bebia muito nos
concertos e, quando isso acontecia, transformava-se numa pessoa difícil de
aturar. Cansei-me dessa situação e, sob o pretexto de recomeçar a minha
formação académica, anunciei a saída da banda após um concerto em Vila Franca
de Xira (e mais uma dessas penosas bebedeiras do Necas). O facto é que, graças
a essas circunstâncias, pude retomar os meus estudos académicos e, na
sequência, concluir a licenciatura em engenharia civil, podendo-se dizer
ironicamente que o devo ao Necas, pois doutra forma não teria saído da banda e,
claro, não teria havido licenciatura.
Não me importei com o álbum
porque considerei que tinha atingido o limite máximo admissível da minha
paciência, apesar de, na altura em que saí, segundo me recordo, todos os temas
do álbum já estarem estruturados, trabalhados e prontos para gravar.
P. –
O que acham que correu mal naquela altura para que o projecto não tivesse tido
continuidade?
Zica
- Problemas internos que ficaram apenas no seio da banda.
P. –
Mantêm o contacto entre os antigos elementos da banda hoje em dia?
Zica
- Sim mas não tão frequentemente como quando tocávamos, obviamente.
P. –
De todas as músicas que gravaram há alguma que considerem a vossa preferida?
Zica
- Falo por mim "Brigada Rock".
Zé Nuno – Para mim foram “Vem
Daí”, “Trip Fixe”, isto é, basicamente os temas dos dois singles. São também
aqueles que gravei e que ficaram com melhor som. O som final do álbum, segundo
a minha opinião, não foi muito bem conseguido.
P. –
Existe algum concerto que se recordem por alguma razão especial?
Zica
- Em Braga com os UHF e os Táxi. Abrimos o concerto, fizemos encore e sentimos
grande feedback do público.
P. –
Há algumas situações divertidas que tenham vivido e queiram partilhar connosco?
Zica
- O Armindo, sempre que íamos jantar antes dos concertos, implicava sempre com
as mousses dos restaurantes, afirmando que não eram caseiras.
P. –
Passados tantos anos a ideia de ressuscitar os NZZN ainda pairou no ar, o que
faltou para que se voltassem a reunir?
Zica
- Faltou essencialmente o guitarrista (Necas) e a sua identidade própria.
P. –
Zé Nuno, recentemente tens estado envolvido em vários novos projectos tais como
os Comandos e os 4Rock, fala-nos um pouco destes novos projectos e ideias para
o futuro.
Zé Nuno – Os Comandos surgiram
essencialmente como um tributo aos V12, uma excelente banda de metal dos anos
80, com temas fortes e algo complexos. O mentor e cantor da banda é o Rafael
Maia, fundador dos V12. A minha continuidade no projecto requeria uma
disponibilidade e dedicação que, em determinado momento, considerei que não
iria conseguir garantir por muito mais tempo, por razões várias.
Os 4Rock são uma banda de covers
de bandas internacionais de rock abrangente de vários estilos e décadas.
Recentemente, deparámo-nos com a saída do nosso cantor, o Pedro Silva, pelo que
estamos neste momento em fase de audições para preenchimento dessa vaga.
Além de outras iniciativas de
projectos inacabados vários, participei também temporariamente num projecto de
blues, The Blues Route Band, a convite do Raúl Anjos (ex-baterista dos Go Graal
Blues Band). Acabei também por abandonar esse projecto por razões idênticas às
que me levaram à saída dos Comandos.
Actualmente estou fortemente
empenhado num projecto de tributo às bandas históricas do rock português, os
Salada Lusa, estando neste momento na fase de preparação do setlist para
arranque previsto em Novembro.
P. –
Que principais diferenças encontram entre o panorama actual e os tempos dos
NZZN?
Zica
- Acabou a abertura e o apetite de gravar novas bandas. De resto está tudo ma
mesma.
Zé Nuno - Em primeiro lugar, hoje
em dia não é raro encontrarem-se músicos que participam em 4 e 5 bandas em
simultâneo (eu próprio já me vi nessa situação e acabei por concluir que é pura
perda de tempo). Se por um lado pode ser enriquecedor individualmente pela
troca de experiências com músicos variados, por outro é castrante nas
possibilidades de sucesso de cada uma dessas bandas pela dispersão de tempo e
foco que doutra forma, concentrados numa só banda, possibilitariam atingir os
objectivos pretendidos duma forma garantidamente mais célere e segura.
Em segundo lugar, com o
desenvolvimento permanente da internet e consequente globalização do
conhecimento, os níveis técnicos dos músicos são agora maiores e mais
facilmente superáveis, o que por um lado é positivo mas, por outro lado, o que
se verifica na realidade é que esse superior nível técnico é geralmente
acompanhado, inexplicavelmente, por uma menor criatividade musical.
Em terceiro lugar, e como
consequência em parte do que referi no primeiro parágrafo, a dispersão de tempo
e foco inibe facilmente duas das condições essenciais para conseguir que
qualquer projecto tenha sucesso: ambição e determinação.
Como conclusão e ainda em minha
opinião, considero serem cinco as condições essenciais para se alcançar o
sucesso com uma banda, quer nos dias de hoje quer na época dos NZZN: sentido de
responsabilidade, competência, foco, ambição e determinação.
P. –
Existe alguma ideia para efectuar uma compilação que inclua os singles e o LP
em CD no futuro, ou por ventura, alguma gravação ao vivo?
Zica
- Não.
P. –
Sentem que foram pioneiros do heavy metal em Portugal?
Zica
- Sinceramente não sei. Mas posso dizer que contribuímos como pudemos.
P. –
Como vêm a cena heavy metal actual? Tanto em Portugal como no estrangeiro?
Zica
- Em Portugal, sinceramente não acompanho. No estrangeiro se há bandas que
insistem a tocar no mesmo padrão, outras continuam a evoluir favoravelmente
sobretudo no aspecto técnico.
Zé Nuno – Um dos factores que
prejudicam o heavy metal é a ausência frequente de sentido melódico e de
dinâmica nas composições do género. As bandas que se preocuparem em superar
esse facto com a inclusão de refrões fortes e dinâmicas variadas, e, não menos
importante, trabalharem no sentido de conseguirem um bloco coeso, são as que
mais facilmente obterão o reconhecimento do público e, portanto, o sucesso.
P. –
Algumas palavras que gostassem de acrescentar para terminar esta entrevista?
Zica
- Lamento profundamente que em Portugal, apesar da idade, não existam apoios para
que possamos continuar a fazer a música que gostaríamos de fazer o que leva
muita gente da nossa geração a deixar de tocar.
Zé Nuno - Seria muito importante
que os músicos das gerações mais recentes (e não só) se consciencializassem que
a música não deve ser encarada de forma leviana ou como um simples hobby que
lhes dá o direito de actuarem gratuitamente em bares ou outros palcos públicos
só para conseguirem tocar nalgum lado, porque, com isso, estão a viciar o
mercado e a “tirar o pão da boca” aos músicos profissionais para quem a música
é o seu único sustento. A esse respeito, gostaria de ver a implementação de
medidas de fiscalização e penalização adequadas como forma de dissuasão dessas
situações aberrantes mas, infelizmente, demasiado frequentes.
Restam-me
agradecer desde já o vosso tempo dispensado para esta entrevista e votos de
sucesso nos projectos futuros.
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