Os Alarme formaram-se na Nazaré, e
consistiam em Carlos Cavalheiro, voz (ex-Xarhanga), Altino Borda D´Água
guitarra, Silvino Pais da Silva guitarra, Orlando Borda D´Água baixo e Victor
Bombas bateria. Durante o chamado "Boom do Rock Português", gravaram
o single "Desconto Especial", que incluía o tema "Autocarro Diariamente"
no lado B. Estivemos à Conversa com Carlos Cavalheiro sobre o que foi a
carreira dos Alarme.
P. - Olá Carlos, fale-nos um pouco
sobre os tempos dos "Xharanga", como era fazer rock em Portugal em
plena época de revolução?
R.: A
música Rock em Portugal, antes da Revolução, tinha já muitos seguidores a
exemplo do que se passava em praticamente todo o mundo. O nível do
nacional-cançonetismo, que imperava em Portugal, deixava muito a desejar em
todos os capítulos. Faltava a técnica, o bom gosto, o talento e a novidade. Era
enfadonho, primário e desinteressante. Era portanto natural, que face à onda de
música fresca e de grande qualidade que nos chegava do estrangeiro houvesse
muitos aderentes a essa nova música. Outro aspeto a realçar era o facto de ser
irreverente e revolucionária. Cabelos compridos, roupas coloridas e
extravagantes para época, completavam um quadro a que muitos gostavam de
pertencer, e que se destacava vivamente no seio duma sociedade retrógrada,
desajustada dos tempos que se viviam e apregoadora de morais ferrugentas.
Havia
portanto um grupo de seguidores da música Rock em franco crescimento. Era aí que
se situava o Xarhanga!
Depois
da Revolução, e em plena época da mesma, o Rock em Portugal foi completamente
marginalizado. Não se enquadrava, segundo alguns cuja opinião se tornou
importante na altura, com a revolução que se encontrava em curso. Passámos dum
regime que achava que o Rock era um fenómeno barulhento e incivilizado, para
outro que achava que o Rock não era algo que servisse ou fosse expressão do
“povo”.
P. - Depois dos Xharanga, para além
de uma participação no festival da canção, em que outros projectos musicais
esteve incluído?
R.: Gravei
com o Júlio Pereira o álbum “Bota Fora” e ainda com Júlio Pereira, participei
como cantor na peça musical “Liberdade, liberdade”.
P. - Como surgiu a ideia de formar
os Alarme? Fale-nos um pouco sobre os primeiros tempos.
R.: Antes
do Alarme fiz parte durante alguns anos duma banda de baile chamada “Hiper”,
cuja maioria dos elementos eram Angolanos. Guardo grandes e belas memórias
dessa banda. Quando o Rock Português começou a tomar forma, eu e dois dos
elementos do “Hiper”, Altino Borda D’Água e Orlando Borda D’Água, decidimos
formar uma nova banda juntamente com dois outros amigos músicos: Silvino Pais
da Silva e Vítor Bombas. Para formar a banda decidimos passar a escrever e
ensaiar durante 6 a 8 horas por dia, todos os dias da semana. Depois de seis
meses nessa rotina nasceu o Alarme.
P. - Em Julho de 1981 dá-se o
festival Só Rock, realizado em Coimbra, onde participaram grandes nomes do rock
nacional e do qual foram vencedores, como decorreu este festival?
R.: Esse
Festival foi quiçá a maior manifestação de música Portuguesa que jamais
existiu. A própria organização do Festival não esperava a adesão que se seguiu
e deparou-se com cerca de 200 bandas concorrentes. Assim nas eliminatórias
semanais, foi necessário incluir vinte bandas por fim de semana. Dez bandas aos
sábados e outras dez aos domingos, no jardim da Sereia em Coimbra. Em cada
semana era selecionada uma banda. As eliminatórias decorreram durante 10
semanas. Por fim, as dez bandas finalistas tocaram no Estádio Municipal de
Coimbra, donde emergiu o “Alarme” como vencedor.
P. - Ter vencido o festival
valeu-vos a edição do single "Desconto Especial", editado pela Imavox
em 82?
R.:
Sim, depois de esperarmos um ano, efetuámos uma gravação à pressa. Foi tudo
feito no mesmo dia. Não houve nenhum cuidado com a qualidade da gravação e foi
óbvio que apenas queriam cumprir a promessa que tinham feito. O melhor mesmo
foi o equipamento de som que ganhámos, da marca portuguesa “Furacão” e que
também fazia parte do 1º prémio.
P. - Em abril de 1982, tiveram um
dos momentos mais altos da vossa carreira ao abrir o espectáculo dos
Dr.Feelgood, que memórias guarda desse show?
R.: Na
realidade o melhor de tudo era o estado de espírito que se alcançava com o
desenrolar do concerto. Recordo-me que no final dos concertos necessitávamos
sempre de algum tempo a sós para “regressar à Terra”!
P. - Pouco depois foi a vez de
partilharem o palco com as Girlschool e os Rainbow do Ritchie Blackmore, algumas
memórias especiais que se lembre deste dia?
R.: Fundamentalmente
o facto estarmos a tocar em Cascais, o grande templo dos concertos da época. O
extraordinário público e o ambiente incrível, essas foram as grandes memórias
desse concerto.
P. - Chegaram a ter conversas com
alguma editora com vista à gravação de um álbum?
R.: Não,
nunca existiram contactos nesse sentido.
P. - Terá sido a não edição de um
álbum que levou ao final da banda, por volta de 1983?
R.: O
Alarme não estava fadado para ser uma estrela do Rock mas antes um cometa do
Rock. Apareceu, brilhou intensamente e desapareceu.
P. - Depois emigrou para o Canadá,
teve algum projeto musical por lá? Conte-nos um pouco sobre esses projetos.
R.: Depois
de emigrar para o Canadá, continuei com alguma atividade musical, mas apenas
como passatempo. Gravei algumas novas canções e, juntamente com alguns amigos,
formámos uma banda que teve algumas atuações em palco.
P. - Por volta de 2009, volta a
reunir os Alarme, desta vez fazes-te acompanhar por Abilio Caseiro e Abilio
Ferro. Ainda tentaste reunir a formação original, ou tal não foi possível?
R.: Sim,
com efeito tentei reunir a formação original mas infelizmente tal não foi
possível.
P. - Surge depois o álbum
"Estamos Aqui", gravado com esta nova formação, foi um sonho tornado
realidade ver estas musicas gravadas em cd?
R.: A
ideia foi efectivamente gravar o que nunca tinha sido gravado.
P. - Mas no entanto, os Alarme
voltaram a não ter continuidade, em tua opinião a que se deveu?
R.: Haverá
certamente muitas razões. Uma delas, penso eu, prende-se com o próprio estilo
de música da banda e o conteúdo das letras.
P. - Serão os Alarme são um capítulo
encerrado na tua vida hoje em dia?
R.: Penso
que sim, que o Alarme é um capítulo encerrado
por agora, mas quem sabe, os cometas reaparecem a intervalos que apesar de longos
são regulares. J
P. - Algumas considerações finais
para terminar a entrevista?
R.: Apenas
que fui bafejado pela sorte por ter sido um dos primeiros roqueiros em
Portugal, de ter tido o privilégio de ter sido músico e de haver retirado da
música uma grande dose de felicidade. Esse valor ficará sempre comigo, mesmo
quando eu partir para os dias eternos!
Votos de felicidades para o futuro e
muito obrigado pelo tempo dispensado!
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